Ontem eu tive a sorte de reencontrar um bom e velho amigo. E, como amigo antigo é uma espécie de HD externo das nossas piores memórias, ele fez questão de me lembrar de uma história ocorrida lá em mil-quinhentos-e-verão-de-95. Faz tempo.
Eu era adolescente e tinha um grupo grande de amigos no bairro, um grupo enorme. Dentre eles, um amigo bem chegado que vamos chamar de Chiquinho. Chiquinho vivia indo com o pessoal lá em casa, todo mundo se dava bem e a galera se encontrava dia sim, dia também. Afinidade mesmo. Aí teve umas férias em que eu precisei viajar e passei um mês fora. Mal desembarquei de volta em Salvador, saí pelo quarteirão pra ver se reencontrava alguém.
Aí eu encontrei Chiquinho. Assim, vestido diferente, todo gaboso, andando com uns amigos novos. Não me contive, claro. Banquei a baixo-astral-de-Brotas e atravessei a rua gritando, fazendo festa, levantando as mãos e esperando um abraço apertado depois do exílio. Foi então que Chiquinho me avistou, levantou as sobrancelhas e disse: olá, tudo bem? Assim, GELADO. Indiferente como uma cadeira. Com uma cara de Monalisa, como se não me conhecesse. E os novos amigos dele ali, parados, me olhando.
Eu. queria. sumir.
Nem sei como não errei o caminho de volta pra casa. Não entendi nada, fiquei mal, primeiro eu queria compreender a reação de Chiquinho, depois eu queria MATAAAR Chiquinho. Aí comecei a conjecturar sobre o que poderia ter acontecido na minha ausência, sei lá, como ele cultivou novas amizades, assim, em apenas um mês? Plantou com feijão no algodãozinho? A gente se conhecia há tanto tempo, ele tinha bancado a Greta Garbo comigo e aquilo não ia sair barato. Ah, não ia não.
A verdade é que um dos aspectos mais banalizantes da vida é essa capacidade que algumas pessoas têm de nos mostrar o quanto nós somos substituíveis. E, no fundo, todo mundo é. Acho que eu até aceitaria bem se alguém me evitasse por que eu sou especial, possuo uma característica negativa e sou alvo de desafetos específicos. Mas é difícil explicar para o próprio ego que alguém só te desprezou por que conheceu uma galera mais legal jogando vídeo-game.
No dia seguinte, eu estava andando na rua e avistei o próprio no portão da casa dele. Céus, eu queria ver o capeta chupando manga de ceroula, mas não queria ver Chiquinho na minha frente. Antes que eu pudesse dar meia volta, ele veio correndo – Mirandaaaa!!! – numa demonstração de afeto tardia e despropositada que só piorou tudo – Ué, garoto, agora você me conhece??
Diante da cara de desentendido do mancebo, desatei a falar. Tenho uma memória vaga dos adjetivos que lhe emprestei, passando do A, de antipático, até o Z, de zé mané. Oh, complacentes leitores, entendam: eu estava magoada, ofendida e perigosamente munida de razão. Não tive piedade. E a cara de bobo do rapaz foi se convertendo num semblante conformado de quem sabia que a coisa havia degringolado de vez e que não adiantava se defender. Nem tentou. Ouviu tudo calado, cabeça baixa, a face do consternamento talhado em bronze e remorsos. Um réu confesso. Toda punição era pouca, castigo nenhum era demais.
Só quando eu terminei, Chiquinho levantou os olhos, abriu o portão devagar e disse:
– Agora entra aí, eu vou te apresentar o Alvinho, meu irmão gêmeo.
kkkkkkkkkkkkkkk, hilário!
Eu até pensei: “Meu Deus, o irmão gêmeo bem que podia ser mais simpático, tipo: olá. prazer, você deve estar me confundindo com meu irmão gêmeo, rsrsrsrs….”
E depois cheguei a conclusão que foi melhor assim mesmo. Assim pudemos nos deliciar com seus textos.
Bjs
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Que história é essa minha gente?
Fantástica!!!
Passei mal de rir, já mostrei pra várias pessoas.
Mariana sou sua fã.
Ebilene
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kkkkkk
Estava sentindo falta! Só vc p me fazer rir deste jeito….adoro seus dramas…rsrsrs
Bjs!
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